Aeroporto de Congonhas e deputado Freitas Nobre são símbolos da democracia

Por Marcelo Nobre

Postado originalmente no ConJur.

Com a construção do Aeroporto Internacional de Congonhas no final dos anos 30, a sociedade brasileira e a cidade de São Paulo aproximaram-se do Velho Continente, da América e das mais distantes cidades brasileiras.

Através de Congonhas, nos 30 anos que se seguiram, partiram e chegaram cidadãos do mundo todo e de diferentes regiões do Brasil, espalhando esperança, desenvolvimento, liberdade e fraternidade. Inegavelmente, o país tornou-se mais plural.

No início dos anos 60, quando os militares se instalaram no poder sem um voto sequer e amparados unicamente na violência, muitos acreditaram que o aeroporto símbolo da democracia e da união territorial, seria sufocado em sua vocação.

Mas ele resistiu e se manteve como um dos principais pontos de encontro de muitos democratas.

Durante esse período sombrio que durou 20 anos, Congonhas reafirmou a sua essência e, silenciosamente, contribuiu com a ligação dos semeadores da democracia com seu povo, permitindo que a resistência aos arbítrios da ditadura e a luta pelo retorno da soberania popular e da igualdade de todos perante a lei não ficassem esquecidas, tampouco desacreditadas.

O oponente e belo hall de Congonhas espalhava esperança e unia brasileiros que articulavam a resistência ao golpe militar, como as inesquecíveis lideranças de Freitas Nobre, Ulisses Guimarães, Mário Covas, Franco Montoro, Alencar Furtado, Paes de Andrade, Almino Afonso e tantos outros.

Hoje, passadas dezenas de anos, os corredores do Aeroporto de Congonhas refletem as novas angústias da maioria da população brasileira que aguarda, ansiosamente, por novas lideranças políticas convictamente dedicadas aos interesses da nação e de seus cidadãos.

E com esse espírito de expectativa por uma nova geração de políticos, capaz de conduzir a defesa e a manutenção da democracia com absoluto respeito à coisa pública, é que surge a homenagem a um exemplo de liderança que deve inspirar a nova geração de homens públicos que orgulhem o seu povo.

No último dia 19 de junho, Congonhas passou a se chamar Aeroporto de São Paulo/Congonhas – Deputado Freitas Nobre, após proposta aprovada por unanimidade nas duas casas do Congresso Nacional.

O jornalista, advogado, professor, escritor e homem público Freitas Nobre faz parte do corajoso grupo de líderes que contribuiu de forma ímpar com o processo de redemocratização do país.

Professor titular da USP, advogado renomado e jornalista admirado, Nobre edificou a sua passagem pela vida pública de forma irrepreensível.

Em 1958, após presidir o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo por três gestões e a Federação Nacional dos Jornalistas por duas, Freitas Nobre ingressou na vida pública, se elegendo pela primeira vez como vereador de São Paulo pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro). Dois anos depois, foi escolhido vice-prefeito de São Paulo em chapa adversária à do prefeito eleito Prestes Maia, tendo em vista que, naquela época, as eleições para prefeito e vice podiam ser separadas, como acontecia com o pleito para presidente da República e vice-presidente.

Esse breve começo na vida pública foi interrompido, em 1964, pelo golpe militar, impedindo que ele se lançasse a uma nova candidatura e retirando da cidade de São Paulo a esperança de ter um prefeito ungido pela vontade popular. A perseguição política dos militares o levou ao exílio na França, onde cursou doutorado em Direito e Economia da Informação, na Universidade Sorbonne de Paris, sob a orientação de Fernand Terrou, diplomata que fundou e dirigiu o Instituto Francês de Imprensa e ícone da liberdade de expressão da época.

Alguns anos depois, Freitas Nobre retornou ao Brasil em pleno período eleitoral faltando apenas 40 dias para o pleito que elegeria os novos membros da Câmara Municipal de São Paulo. Com a abdicação da candidatura de um colega em seu favor, teve uma votação histórica: 120 mil votos, o maior percentual de votos válidos de um vereador até os dias de hoje na capital paulista.

Dois anos depois, se elegeu deputado federal e forma junto com outros líderes nacionais uma trincheira de resistência à ditadura na Câmara Federal em prol da redemocratização do Brasil.

Defensor do voto direto para todos os governantes, inclusive, e principalmente, para presidente da República, o então líder da oposição ao governo militar na Câmara dos Deputados, cargo que ocupou por seis vezes consecutivas, foi escolhido, em 1984, coordenador responsável pela elaboração do programa de governo do então candidato civil à Presidência da República, Tancredo Neves.

A passagem de Freitas Nobre pela vida pública e a sua luta pela redemocratização não foram em vão. A democracia venceu!

Neste momento em que o Brasil carece de líderes que fortaleçam o Estado Democrático de Direito e voltem a dar orgulho à representação popular, o tributo a Freitas Nobre surge como estímulo ao espírito público daqueles comprometidos com o país. Mais que isso, os instiga a assumirem responsabilidades perante o seu povo, ajudando o Brasil a reencontrar o seu destino e a sua verdadeira missão democrática.

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